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Rumo ao caos

Eng. Francisco Almeida

Publicado: 02/01/2020 - Fonte:


Francisco Almeida é engenheiro e presidente do Crea-GO (Foto: Silvio Simões)


Estamos colhendo frutos de uma política educacional adotada no Brasil no início dos anos 90. E não são doces. Na condição de presidente do Crea-GO, ocupo uma posição que me permite vislumbrar o panorama existente. Enquanto que na década de 90 tínhamos em Goiás dois cursos de Engenharia Civil (um público e outro privado), hoje temos o despautério de 54 cursos: nove estatais e 45 privados. O grande crescimento do número de cursos nessa área se deu a partir de 2008, em função do prometido boom na construção civil.

A sustentabilidade das escolas particulares se deu, em sua maioria, através de financiamento público, por meio de programas como o Fundo de Investimento Estudantil (Fies), bolsas da Organização das Voluntárias de Goiás (OVG), entre outros, resultando no aumento expressivo do número de vagas ofertadas e consequente disputa por alunos, aliada à facilidade de permanência desses alunos nos cursos. Isso ocasionou a captação de um corpo discente oriundo de uma formação ineficiente no segundo grau.

As instituições de ensino que aderiram aos programas passaram a ter uma renda elevada e uma certeza de liquidez, e, na tentativa de preservá-las, se tornaram menos exigentes na aplicação dos conteúdos para evitar evasões, além de reduzirem a carga horária das disciplinas e do curso, suprimindo conteúdos essenciais à formação adequada do futuro profissional. Infelizmente, essa realidade não se aplica somente a Goiás, mas a todo o país.

No momento, estamos assistindo à chegada de uma nova metodologia de ensino – o ensino a distância (EaD) – revestida de oportunismo comercial e que tem, a meu ver, potencial de piorar o que já está ruim, levando-se em conta que os alunos não possuem, em sua maioria, formação adequada para aprenderem sozinhos, aumentando ainda mais a formação de profissionais com baixa capacitação. Com isso, a sociedade está experimentando a chegada de uma leva de profissionais no mercado de trabalho com formação deficiente.

Vale lembrar, aqui, o Artigo 5º Inciso XIII, da Constituição Federal, que dispõe: “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”. Infelizmente, não estamos cumprindo a nossa Constituição, causando um desamparo à população. Imaginando que essa situação certamente se reproduz em todas as áreas de formação de profissionais, estamos próximos do caos.

 

Eng. Francisco Almeida

Presidente do Crea-GO