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Estrada de ferro sem ferrovia

Do jeito que está é que não pode ficar

Publicado: 05/10/2020 - Fonte: Eng. Civ. Antonio de Pádua Teixeira


O Eng. Civ. Antonio de Pádua Teixeira é assessor técnico do Crea-GO


Todos os anos as ferrovias têm de informar à ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres qual é a sua previsão de utilização da malha sob sua concessão, estabelecendo um percentual para cada trecho da estrada. Este documento se chama Declaração de Rede e é utilizado para que a capacidade ociosa possa ser disponibilizada a outros interessados. A malha sob concessão da FCA - Ferrovia Centro-Atlântica em Goiás, atualmente operada pela VLi Logística, está quase totalmente paralisada, com ociosidade superior a 90%. Há trechos em que ela está em 100%, não há mais nenhuma carga passando por ali.

As concessões que aconteceram no final da década de 90 transferiram as concessões ferroviárias para as mineradoras e siderúrgicas. O baixo preço do frete serviu, e serve ainda, para dar mais competitividade ao minério e aos produtos siderúrgicos. O efeito colateral perverso é que a carga geral, que atualmente é transportada em contêineres, foi completamente abandonada em Goiás.

Não chegou nem saiu nenhum contêiner de Brasília por ferrovia neste ano. De Anápolis saíram 87 toneladas, devem ser dois contêineres, e chegaram 14.667 toneladas, pouco mais de 600 contêineres. Parece muito, mas não dá um trem por semana.

Parece muito, mas esta sensação desaparece quando comparamos estes números com os do transporte de contêineres pela Rumo entre São Paulo e Rondonópolis. De acordo com a ANTT, que publica mensalmente as estatísticas do transporte ferroviário, chegaram a Rondonópolis até julho 58.210 toneladas e saíram 567.952 toneladas de produtos em contêineres. Isto dá mais de 28 mil contêineres cheios. Apenas para comparação, enquanto Rondonópolis tem 560 mil habitantes em sua região de influência, a Região Metropolitana de Goiânia tem dois milhões e meio de habitantes, Brasília e a Região do Entorno tem mais de quatro milhões. Como estão vindo para cá os produtos para abastecer este mercado? Como são transportados os produtos aqui produzidos?

A diferença básica é que os produtos transportados pela FCA são graneis agrícolas e minerais. O negócio da Rumo é o transporte de carga e ela tem que correr atrás do cliente. Além dos milhões de toneladas dos graneis agrícolas ela procura os novos clientes da carga geral.

A FCA está negociando com o ministério da Infraestrutura a renovação antecipada do seu contrato de concessão. É interessante para Goiás? A concessão da Malha Paulista da Rumo teve sua renovação de contrato assinada recentemente. Ela vai investir na melhoria da malha, nas travessias urbanas e em muitos outros pontos. Esta capacidade ociosa da ferrovia em Goiás, que a VLi não quer operar, poderia ser oferecida a operadores independentes interessados no transporte de contêineres e passageiros. A carga existe. Do jeito que está é que não pode ficar, porque o risco é do Estado ficar sem a Estrada de Ferro Goiás e a ferrovia ficar apenas no nome da Região.