Eng. Civil Antonio de Padua Teixeira
Publicado: 28/01/2018 - Fonte:A reunião no Porto Seco de Anápolis e suas declarações posteriores escancaram o fato deste modelo de concessão ser totalmente inadequado para os interesses do Brasil. A carga está aí, a VLi não quer transportar e não há o que fazer. O concessionário da infraestrutura não deveria nunca ser o prestador de serviços. A Alemanha tem mais de trezentos operadores ferroviários.
Nós, Goiás, precisamos deixar de correr atrás de fatos consumados. Depois desse exemplo escandaloso de atuação contrária ao interesse público, nós precisamos nos antecipar, exigindo, por exemplo, que a concessão da Ferrovia Norte-Sul aconteça com novas regras.
A mesma atitude deve ser tomada com relação à prorrogação do contrato da Malha Paulista, com medidas até mesmo judiciais para impedir a renovação como está sendo proposta. O contrato só vence em 2029, não é necessário que ele seja renovado de imediato nessas condições que não levam em conta o interesse público.
Um novo governo um dia virá, com outras pessoas, outras cabeças, talvez uma visão mais voltada para o que o Brasil pode ser, tendo uma mentalidade mais voltada para o interesse público, para um desenvolvimento mais harmônico.
Juscelino Kubitschek matou o transporte ferroviário. Ao privilegiar a indústria automobilística e ter uma visão exclusivamente rodoviária, a ferrovia foi condenada a ser sempre um transporte de segunda categoria, sem nunca retomar sua cultura de indutora do desenvolvimento, diminuindo ano a ano sua participação no transporte da carga geral. De acordo com o Anuário do Setor Ferroviário de 2017, oitenta por cento do transporte ferroviário brasileiro é de minério de ferro. A soja e o farelo, destaques do agronegócio, respondem por apenas 4,5% do total. O transporte de passageiros foi abandonado, sobrevivendo apenas em alguns roteiros turísticos.
Na Europa as estações ferroviárias estão nos centros das cidades, belas e imponentes, com trens chegando e saindo a todo momento. Não foram transferidas para os subúrbios ou abandonadas em troca de nada.
A novela de um trem de média velocidade entre Goiânia e Brasília se arrasta há anos, repetindo na vida real “O direito de nascer”. Viajei em trens de alta velocidade na Irlanda, Itália, Inglaterra, Alemanha, na França e também na China. Neste país andei em um trem com levitação magnética a 430 km/h. Aqui a proposta da renovação antecipada do contrato da Malha Paulista propõe aumentar a velocidade média de 13,5 km/h para 17,8 km/h em cinco anos. Definitivamente, não é disto que precisamos.
Eng. Civil Antonio de Padua Teixeira
Assessor Técnico do Crea-GO
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