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A dependência rodoviária

Eng. Civil Antonio de Padua Teixeira

Publicado: 03/06/2018 - Fonte:




Na inauguração da rodovia ligando Brasília a Anápolis Juscelino disse que havia construído aquela estrada porque a ferrovia era fundamental para Brasília. Tão "fundamental" que, apesar de transportar pela ferrovia o aço e o cimento utilizado na construção da nova capital ele nunca construiu o trecho ferroviário fazendo aquela ligação e nem qualquer outro. A visão de Juscelino era rodoviária.

Em 1962 o país contava com mais de 38 mil km de ferrovias, na época da privatização eram cerca de 29 mil e hoje são pouco mais de 30 mil, quase semelhante aos 27 mil km de ferrovias do Japão, um país com 378 mil km², área 22 vezes menor que a do Brasil.

De acordo com a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) o transporte rodoviário tem 61,1% de participação na matriz de transportes no Brasil e o transporte ferroviário 20,7%. A principal carga transportada pelas ferrovias, no entanto, é minério de ferro, mais de 80% do total. A segunda carga mais importante, os graneis agrícolas soja e farelo de soja não chegam a 5%. O resto se compõe de graneis também: adubos, celulose, açúcar, coque, cimento, produtos siderúrgicos, álcool e outros produtos menos expressivos. A carga geral é transportada pela rodovia. Não há transporte pela ferrovia e nós dependemos do transporte rodoviário. Todos os bens de consumo, os produtos de uso diário, são transportados pela rodovia. A velocidade média nas ferrovias brasileiras é de 22 km/h, de acordo com a CNT, enquanto nos Estados Unidos é de 80 km/h. Isto também mostra a falta de investimentos, o descaso com a ferrovia.

O transporte ferroviário é deficiente no Brasil e foi totalmente abandonado no Estado de Goiás. Os contêineres, que chegaram a três mil por mês, não são mais transportados pela ferrovia. Outro absurdo é o caminhão carregar grãos em Anápolis na moega ferroviária e ir até Araguari pela rodovia para despejar em outra moega ferroviária e seguir para Santos ou Vitória.

A hidrovia tem participação de 13,6% na matriz de transportes. Um projeto da Embrapa procura incentivar a utilização das hidrovias para exportação através dos portos de Santarém, Barcarena e Macapá. O transporte da safra agrícola na hidrovia Tietê-Paraná ainda depende do transporte rodoviário para embarque em São Simão e do transporte rodoviário ou ferroviário de Pederneiras até Santos.

Um dos motivos de não haver transporte de carga geral pela ferrovia no Brasil é porque o modelo de concessão é inadequado. O operador da infraestrutura é também o transportador e se limita a poucos clientes de grande porte. Não há espaço para carga geral. A Alemanha tem mais de 300 operadores ferroviários e a busca por clientes é ferrenha.

O Governo do Estado tem se manifestado em favor de uma nova postura em relação às questões do transporte ferroviário, mas isto tem que se traduzir em ações efetivas, sem as quais continuaremos reféns de um transporte rodoviário que não consegue atender às necessidades de Goiás, mas infelizmente é a única opção real.

 

Eng. Civil Antonio de Padua Teixeira

Assessor Técnico do Crea-GO