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Assim esse trem não sai

Eng. Civil Antonio de Padua Teixeira

Publicado: 02/05/2020 - Fonte:




Quando foi concedida, no final da década de 90, a extensão da malha ferroviária brasileira era de quase 30 mil km, mas tinha em 2014 pouco mais de 10 mil km em operação, de acordo com auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). O resto foi abandonado. Desde 1996 a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) é a concessionária para o transporte de cargas ferroviárias em Goiás. A VLi, atual operadora do trecho, abandonou o serviço apesar desta possibilidade não estar prevista no contrato, aliás a proíbe.

O volume do transporte de mercadorias em Goiás é atualmente muito baixo. As estações foram abandonadas e estão em ruínas, excetuando-se as que foram recuperadas pelo Iphan. Mesmo assim fala-se em antecipação da renovação, o que parece ser totalmente contrário aos interesses de Goiás. Deixemos que as cargas com origem e destino na região central do estado sejam transportadas pela Ferrovia Norte-Sul, seja para os portos do Maranhão ou de Santos. Vamos cuidar agora do futuro da Região da Estrada de Ferro, que precisa de outra ferrovia.

A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) estuda entregar para a iniciativa privada a operação dos trens turísticos em São Paulo. Há várias questões ainda a serem resolvidas, da mesma maneira que aqui, e pode servir de exemplo. O governo paulista tem conversado com o Ministério da Infraestrutura sobre o compartilhamento da malha no contrato de concessão, que também está sendo objeto de discussões para sua renovação antecipada. Na estrutura administrativa do nosso Governo estadual não há quem se disponha a tratar do assunto, a não ser a Goiás Turismo que, ao lado dos Municípios da Região da Estrada de Ferro, tem procurado caminhos para viabilizar o Consórcio do Trem Turístico. É uma luta inglória, o desafio é gigantesco e não há outros interlocutores em busca da solução.

No caso paulista, as locomotivas são da própria CPTM e os vagões foram cedidos pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF). E aqui? Onde estão os vagões que deverão transportar os turistas e em que estado de conservação se encontram? E as locomotivas? Depois de garantir o direito de compartilhamento das linhas concedidas, recuperar os vagões e as locomotivas, é preciso definir quem será o responsável pela manutenção deste material rodante. Em Goiás não há oficinas. As linhas estão em estado tão precário que a VLi abandonou o transporte de combustível até Senador Canedo alegando falta de manutenção da linha férrea. Quem vai cuidar da recuperação da linha e, depois, da manutenção? Existem muitas perguntas e parece que a Goiás Turismo está correndo sozinha atrás deste sonho. As respostas, quando existirem, serão o ponto de partida para o projeto de um trem turístico.

 

 

Eng. Civil Antonio de Padua Teixeira

Assessor Técnico do Crea-GO