Eng. Agr. Ariston Alves Afonso
Publicado: 01/12/2021 - Fonte:Como disse Guimarães Rosa: “A água de boa qualidade é como a saúde ou a liberdade: só tem valor quando acaba”.
A água está acabando, dizem alguns, argumentando que no passado tal rio era caudaloso e hoje o transpõe com água pelos joelhos.
Mas que fenômeno é esse que é capaz de provocar tais alterações no regime dos mananciais, visto que, se ao observarmos os dados meteorológicos de determinada região, notamos que não há variações significativas dos volumes precipitados anualmente nos últimos 20, 30 ou 50 anos? Para onde foi a água?
Para um rio reduzir sua vazão, muitas nascentes devem secar ou reduzir suas vazões. E isso de fato está acontecendo, como testemunham os próprios rios.
A questão é identificar a origem desse fenômeno.
Se olharmos atentamente para o ciclo hidrológico, defrontamos com fenômenos que se repetem e são responsáveis pela presença da água sobre os continentes, quais seja, a Evaporação, a Evapotranspiração, a infiltração no solo, a formação de depósitos e o escoamento superficial.
Analisando cada fenômeno em particular deparamos com as seguintes situações:
Evaporação: É a passagem da água do estado líquido para o gasoso e praticamente não ocorreu alteração, visto que ela acontece onde há superfície de água livre, especialmente oceanos, rios e lagos. Esses ambientes foram pouco alterados recentemente.
Evapotranspiração: é o processo de passagem da água do estado líquido para o gasoso através de um ser vivo. O volume mais significativo é aquele feito através dos vegetais. Aí tivemos alterações importantes. Os humanos modificaram significativamente a característica da cobertura vegetal da superfície da terra. Em muitos lugares foram suprimidas e em outros, as espécies foram trocadas. Por óbvio, a vegetação natural tem maior potencial evapotranspirante do que as culturas de pequeno porte. Além disso, possuem sistemas radiculares menores, o que dificulta a infiltração da água no solo.
Infiltração: esse elemento sofreu grandes alterações com a ocupação humana. Uma delas decorre da substituição da vegetação nativa por outras espécies; ainda no ramo agrícola, ocorre supressão total da vegetação deixando os solos desnudos, além da compactação, o que também reduz a capacidade de infiltração. A outra está relacionada com a total impermeabilização do solo, através da construção de edifícios, calçamentos, ruas e rodovias asfaltadas.
Escoamento superficial: Esse fenômeno ocorre naturalmente, porém, ele foi alterado em função das atividades descritas anteriormente, de modo que a água permanece menos tempo na superfície do solo, reduzindo o tempo que ela teria para evaporar e para infiltrar, ou seja, menor quantidade chegará aos lençóis subterrâneos. Com isso, ocorre a rápida fuga da água do ambiente, atingindo os mananciais num prazo mais curto do que seria normal, provocando enchentes. O outro efeito, ainda mais grave é a falta de reposição dos lençóis, com a consequente redução das vazões das nascentes e dos rios.
Portanto, a conclusão que se chega é que o responsável pelas alterações que estão em curso é a própria ocupação humana do espaço.
Qual a nossa reponsabilidade nisso? A maioria das pessoas prefere atribuir a culpa aos “outros”, sem assumir sua parcela. Mas todos nós queremos ruas asfaltadas, casas com quintais impermeabilizados, mesa farta, mas poucos pensam nas consequências provocadas pelas atividades necessárias para colocar a mesa, a cadeira, a toalha, suas roupas, e a refeição propriamente dita.
O Brasil tem uma população de 212 milhões de pessoas e ocupa aproximadamente 225 milhões de hectares com agropecuária. Assim, cada brasileiro necessita de aproximadamente um (01) hectare para produzir seus alimentos e, indiretamente é responsável pelo que acontece nele, porém, prefere não assumir os efeitos que isso traz.
Assim, num diagnóstico rápido, levando ao pé da letra e sem floreios, se uma árvore tomba, ela tomba por nós, se uma nascente seca, ela seca por nossa causa.
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