Estamos online!

menu

Crônica de um Abandono Premeditado

Eng. Civil Antonio de Pádua Teixeira

Publicado: 13/12/2021 - Fonte:




Já faz tempo que venho alertando sobre a possibilidade da paralisação da operação da Ferrovia Centro-Atlântica em Goiás. Tendo em vista alguns indícios que vêm se apresentando, esta possibilidade está se tornando uma certeza.

O Anuário Estatístico da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), por exemplo, mostra que não houve evolução no total de cargas transportado pela ferrovia em Goiás entre 2006 e 2020. Além disso, a ociosidade da ferrovia em Goiás está muito alta, próxima de 90% e chegando a 100% em alguns trechos.

Ainda de acordo com informações do Anuário da ANTT e do Comex Stat, um sistema para consultas e extração de dados do comércio exterior brasileiro, em 2020 a VLI, companhia que opera a ferrovia Centro-Atlântica (FCA), deixou de transportar milhões de toneladas de cargas importadas ou exportadas pelo comércio internacional de Goiás, mesmo estando a ferrovia ociosa.

Pesquisas nos mesmos sites mostram que, em 2020, a exportação de graneis agrícolas de Araguari foi de 760 mil toneladas e os embarques de soja, milho e farelo de soja chegaram a 4.665.927 toneladas. Estes resultados apontam que esta carga chegou lá pela rodovia.

Ainda de acordo com o mesmo anuário, o trecho mais crítico do Corredor Centro-Leste fica em Minas Gerais, entre as estações de Uruburetama e Jacarandá, onde a ociosidade da ferrovia informada na Declaração de Rede para 2020 era de 14,8%.

Em manifestações sobre o assunto, dirigentes da VLI têm argumentado que não há necessidade de investimentos nesse segmento crítico, na região denominada Serra do Tigre; que o trecho está ocioso; e que faltam cargas para que ele possa atingir sua plena capacidade.

O site da ANTT não traz a Declaração de Rede da FCA para 2021, mesmo sendo obrigatória sua publicação até outubro do ano anterior. Além disso, estudos sobre os investimentos previstos para a construção de uma variante da Serra do Tigre, projetada para ser construída entre Patrocínio e Sete Lagoas para aumentar a capacidade de transporte, chegaram a um custo de R$ 2,8 bilhões.

A VLI tem apresentado, em algumas oportunidades, interesse na construção de um trecho ferroviário entre Luziânia (GO) e Pirapora (MG), uma das short lines previstas no Plano Estratégico Ferroviário de Minas Gerais. O custo previsto para a construção deste trecho fica entre R$ 800 milhões e R$ 900 milhões, de acordo com declarações do Secretário de Infraestrutura de Minas Gerais, publicadas no site da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer).

Na proposta apresentada pela FCA para antecipação da prorrogação do contrato de concessão até 2056, não há investimentos previstos para aumento da capacidade de carga em Goiás e nem no trecho mineiro do Corredor Centro-Leste, entre Araguari e o entroncamento com a Estrada de Ferro Vitória-a-Minas.

Também já houve manifestações veiculadas na imprensa sobre a intenção do Governo Federal de aplicar o valor da outorga da renovação da concessão da FCA, que ficará em torno de R$ 5 bilhões, na obra da Ferrovia Oeste-Leste (FIOL) na Bahia.

Com tais indícios, chegamos a uma certeza: se os fatos apontados por estes indícios se concretizarem, serão viabilizadas a conclusão de uma ferrovia na Bahia e a construção de uma nova ferrovia no noroeste de Minas, abandonando definitivamente a antiga Estrada de Ferro Goiás.