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Chuvas revelam resultado do crescimento desordenado

Tempestades na capital causam desastres e destruições. Expansão urbana, verticalização e impermeabilização são maiores causas

Publicado: 31/01/2023 - Fonte: O Popular




A cada chuva forte, acima de 25 milímetros (mm) e de cerca de uma hora, em determinada região de Goiânia, a situação da cidade se torna um caos: árvores que caem, ruas alagadas, enxurradas e inundações. Neste domingo (29) e nesta segunda (30), as tempestades que chegaram próximas a 50 mm evidenciaram os problemas que são causados pelo crescimento desordenado da cidade e causaram uma tragédia: a enxurrada arrastou um motociclista para o Córrego Cascavel (leia na página ao lado). A expansão urbana, que horizontalmente ocupa áreas de alagamento e proximidades dos cursos d´água, e a verticalização, que reduz a área permeável e dificulta o escoamento das águas, são as causas que resultam nas situações verificadas nestes dias.

Além disso, a rede de galeria pluvial construída em Goiânia é planejada para uma cidade menor, com mais residências e quintais, mesmo que hoje se tenha maior área construída. O engenheiro civil Ricardo Ferreira, professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), lembra que há cidades no Brasil com índices pluviométricos maiores do que na capital goiana e com infraestrutura que suporta o volume, como Belém (PA). “Isso porque existe uma cultura que adaptou a cidade a essas chuvas torrenciais. Goiânia não se preparou para isso.”

Ferreira entende que o município, por estar no Cerrado e com a tendência de uma cidade mais seca, não se atentou que a urbanização avançada poderia causar os problemas que são fatos a cada chuva mais forte. Conselheiro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO), o arquiteto e urbanista David Finotti, acrescenta que Goiânia é uma cidade que cresceu muito horizontalmente, ocupando áreas mais sensíveis e próximas aos cursos hídricos. Para se ter uma ideia, o projeto original da cidade baseava o município no centro de uma área rodeada por cursos d´água, em que haveria um “cinturão verde”, preservando as margens e proximidades dos rios e córregos.

Porém, com o crescimento urbano, a cidade foi se apropriando das áreas de alagamento. Como exemplo, temos os setores Vila Nova, Vila Redenção e Jardim Goiás, baseado nas margens do Córrego Botafogo; o Jardim América, em que parte ocupa as margens do Córrego Cascavel; além de muitos bairros ao longo do Rio Meia Ponte e Ribeirão Anicuns. Nestes bairros, a construção de vários edifícios, ruas e áreas impermeáveis fez com que a chuva não tivesse como ser absorvida pelo solo. Como as galerias pluviais não foram dimensionadas para a quantidade de água, pois eram planejadas para um volume menor, as ruas são usadas como um “corredor” para a chuva até a próxima boca de lobo ou leito do curso hídrico, causando as enxurradas.

Em números, o gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), André Amorim, explica que a cidade não recebeu a mesma quantidade de chuvas nestes dois dias, mas que o índice chegou a 87 mm na região da Vila Brasília, em Aparecida de Goiânia, no domingo. Para ele, esta chuva em formato de tempestade é que deve ter causado as situações vistas na região Sul da capital, como o transbordamento do Córrego Botafogo no leito canalizado da marginal, na altura da Avenida Jamel Cecílio, e a inundação no Setor Sul. “É uma chuva causada pela nuvem cumulus nimbus que se forma muito rapidamente e cai muito rápido também.”

Amorim avalia que o número de tempestades na capital tem aumentado nos últimos anos e as consequências para elas são em razão das ações humanas. O engenheiro Ricardo Ferreira acredita que é necessário repensar ações para impedir os desastres causados pelas tempestades na capital e que isso é possível a partir de ações de pequeno porte ou obras mais complexas. Para o primeiro caso ele cita, como exemplo, a mudança na lei que aumente o percentual de permeabilização do solo ou a obrigação de construir um poço de infiltração. Atualmente, cada imóvel deve deixar um mínimo de 15% de área sem qualquer construção. “Mas dá para ver que não está dando certo. É uma opção aumentar”, diz Ferreira.

Já os poços de infiltração requerem uma área aparente menor, por onde a água infiltraria, mas criaria um espaço permeável interno no solo, com material que retém a água, como o cascalho. Outra opção seria a criação de jardins de chuva, que possuem o objetivo de reduzir o volume de água que escorre até os leitos. Entre 2019 e 2020, a Prefeitura chegou a construir alguns equipamentos deste tipo no Setor Leste Universitário, mas a gestão atual não levou o projeto adiante. Finotti reforça também que é possível aumentar a área drenante com a construção de calçadas permeáveis, aumento de parques e praças, que seriam projetos baratos e rápidos para contribuir com a melhoria da cidade.

Seinfra informa que realiza prevenção a alagamentos

A Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra) informa que “são realizados monitoramento constante nos pontos de alagamento apontados e limpeza periódica”. Para a secretaria, as situações verificadas nos últimos dois dias são resultados do grande volume de chuvas, em que as águas levam material terroso para as bocas de lobo e galerias, sendo necessária nova intervenção. “O trabalho de prevenção a alagamentos e enchentes é contínuo. Em 2022, foram limpas 39.728 bocas de lobo, 101.933 ramais e 1.290 poços de visita. Destes locais, as equipes retiraram 7.367,50 toneladas de entulhos, como lixo doméstico, sacolas plásticas, galhos, folhas, resto de construção, marmitas de isopor e roupas. Foram limpos também 1.651 unidades de bueiros/pontes.”

Segundo o engenheiro Ricardo Ferreira, esse trabalho de manutenção é o mínimo que deve ser realizado e que é preciso entender que o sistema de drenagem está sobrecarregado. “Tem de pensar em obras estruturantes e a longo prazo. Demora, não dá para fazer só em quatro anos, mas alguém tem que começar”, avalia. Ele cita como obras necessárias o redimensionamento da rede de galerias, pensando em chuvas mais volumosas. “Tem que rever quais as vazões do projeto em Goiânia. Hoje o tempo de retorno é de 25 anos, ou seja, seria um problema a cada esse período, mas tem cidades com 100 mil habitantes que o tempo previsto é de 100 anos”, diz. Ele cita ainda que seria possível pensar em construções de piscinões em áreas públicas da capital para reter a água das chuvas ou mesmo aumentar o volume dos leitos canalizados, que seriam trabalhos a serem feitos mesmo em bairros mais antigos.

Quanto a realização de obras, a Seinfra informa que foram anunciadas obras de drenagem e asfaltamento em 10 bairros da capital, todos mais novos e periféricos. Além disso, “o Programa Goiânia Adiante recebeu um incremento de mais R$ 67,8 milhões para 10 obras específicas de drenagem de águas pluviais e asfaltamento nos principais pontos de alagamento da cidade”. Nesta lista consta 10 obras, como na Alameda dos Buritis, no Setor Central, Ruas 56 e 61, no Jardim Goiás, Avenida Padre Monte, no Bairro Goiá e outros locais com problemas atuais na cidade.

 

Assessoria de Imprensa do Crea-GO
Fonte: O Popular
Foto: Wesley Costa e Diomício Gomes



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