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Ingresso mais difícil no mercado de trabalho

Pesquisa mostra que, em todas as instituições de ensino superior público goianas, a inserção das mulheres não acontece da mesma forma na área do Agronegócio

Publicado: 13/03/2023 - Fonte: O Popular




A pesquisa sobre desigualdade de gênero, fruto de uma tese de doutorado da professora do Instituto Federal Goiano (IF Goiano), Cássia da Silva Castro Arantes, mostrou que 80% dos egressos desempregados na das áreas de Ciências Agrárias e Tecnologia em Agronegócio do Estado de Goiás são mulheres. Além disso, mesmo com maior escolaridade, elas ainda ganham metade dos salários dos homens.

A pesquisa, feita com 600 recém-formados no período entre 2013 e 2020, em todas as instituições de ensino superior público goianas, revelou que a inserção no mercado não acontece da mesma forma para diferentes grupos de profissionais. De acordo com o levantamento, 77% do total de egressos desempregados são mulheres, que têm maior dificuldade de atuar na área de formação e ascender profissionalmente, sendo minoria nos cargos de gestão. O estudo também mostra que 80% das egressas das instituições pesquisadas possuem renda de até quatro salários mínimos, desigualdade que é ainda maior no caso das mulheres negras.

Para a professora Cássia, diante deste cenário de maior dificuldade de inserção profissional no mercado para as egressas de Ciências Agrárias, o serviço público acaba sendo um caminho para fugir das desigualdades, escolha que permite às mulheres atuar na área de formação, obter renda e ascensão profissional. “A inserção da mulher no agronegócio é precária e mostrar esses dados no mês da mulher traz uma importante reflexão sobre equidade de gênero no mundo do trabalho”, considera a pesquisadora.

Logo depois de se formar, a zootecnista e mestre em Agronegócio Kênnia Barbosa Machado não conseguiu trabalho em empresas privadas por falta de experiência na área. Então, foi desenvolver alguns trabalhos na área de extensão rural, junto a uma universidade pública e a uma grande empresa privada. Depois de passar num concurso, atuou dois anos como professora substituta. Após o fim do contrato, novamente não conseguiu ingressar no mercado. “Desta vez, argumentaram que não teriam como me pagar por eu já ser muito qualificada”, lembra Kênnia.

A saída foi passar num concurso público do IF Goiano, onde ela trabalha hoje com licitações e contratações. “Cheguei a fazer algumas assistências em fazendas, mas o trabalho de campo para a mulher é sempre mais complicado por conta do machismo estrutural. Ela sempre precisa saber mais que o homem e transmitir este conhecimento com muita segurança para ser ouvida”, avalia. Além disso, por conta do risco de assédio, era preciso evitar roupas justas ou decotadas, por exemplo. “É muito mais trabalhoso para uma mulher impor respeito e comprovar ser eficiente naquele serviço”, completa.

Para ela, as explicações passam pela histórica divisão sexual do trabalho, que resulta em discriminação salarial, segregação ocupacional e maior dificuldade de ascensão profissional no mercado. “Esta desigualdade não ocorre só no agro. Há trabalhos considerados próprios para homens e mulheres, o que decorre de construções sociais históricas. Existe a ideia de que o trabalho na produção é mais masculino”, avalia a mestre em Agronegócios. No campo, elas enfrentam mais dificuldades, como a necessidade de um banheiro.

A pesquisa mostra que a maioria dos profissionais egressos está inserida no mercado e 30% atuam em cargos de gestão e comercialização de insumos, implementos e commodities, uma tendência de contratações. Somente 4% estão empreendendo na área, mas as atividades ligadas ao empreendedorismo estão entre as que melhor remuneram, ou seja, é um nicho que propicia oportunidades de aplicar conhecimentos e habilidades adquiridos e obter maior renda.

Desconfiança

O empreendedorismo foi o caminho seguido pela engenheira agrônoma Laura Bernardino Fernandes, formada há 15 anos. Na turma de 28 alunos, apenas sete eram mulheres. Com o mercado de trabalho mais restrito para elas, Laura começou a trabalhar como autônoma no campo. “Mas enfrentei muita desconfiança. No início, não acreditam que somos capazes de fazer o trabalho e nem mesmo de andar na fazenda. Sempre há uma desconfiança em relação ao nosso trabalho”, afirma.

Ela ressalta que esta confiança foi conquistada aos poucos, à medida que foi mostrando a qualidade de seu trabalho. Hoje, ela é muito demandada para consultorias. “Um homem sempre ganha a disputa por uma vaga no mercado de trabalho com uma mulher, por motivos como o fato dela engravidar e até ser assediada. Se ela é bonita e gosta de se arrumar, sua competência é colocada em dúvida. Se tem um homem junto no grupo de trabalho, ele sempre é ouvido primeiro”, conta Laura, que participa do Programa Mulher do Crea e acredita que toda esta realidade está mudando aos poucos, com as novas gerações.

Para a conselheira do Crea Juliana Matos, apesar do aumento do número de mulheres nas salas de aulas destes cursos predominantemente masculinos, isso ainda não se reflete no mercado de trabalho, onde persiste a chamada ‘síndrome da impostora’. “O fato das mulheres ocuparem menos cargos de gestão ajuda a perpetuar essas desigualdades”, alerta.

Depois de se formar, em 2019, a engenheira agrônoma Mariely Moreira Borges mandou vários currículos para empresas, mas só conseguiu um trabalho temporário, que foi encerrado pela pandemia. Ela lembra que os homens de sua turma conseguiram uma colocação bem mais rápido que as mulheres que tiveram um desempenho acadêmico bem melhor que o deles. Já Mariely precisou fazer uma pós-graduação para turbinar seu currículo e ter mais chances de conseguir uma colocação.

Hoje, ela presta serviço de monitoramento de lavouras por imagem para uma empresa, trabalhando em casa. Para atuar diretamente nas lavouras, os homens acabam tendo a preferência. “A pessoa jurídica foi o caminho para me inserir no mercado de trabalho”, destaca. Mariely lembra que amigas que atuam no campo já relataram problemas de assédio.

 

Assessoria de Imprensa do Crea-GO
Fonte: O Popular
Foto: Diomício Gomes



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