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Uso de abelhas melhora produtividade em até 30%

Técnica de baixo custo, a polinização com o manejo de colmeias cresce em Goiás, desenvolvendo frutos e auxiliando na preservação ambiental

Publicado: 20/03/2023 - Fonte: O Popular




Aumento da produção em torno de 30%, frutos maiores e de melhor formato, com uso de uma técnica de baixo custo e benéfica ao meio ambiente. Esse o resultado apontado por produtores e especialistas em apicultura e meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão) sobre o uso de abelhas para polinização de flores em lavouras.

Gerente geral de uma fazenda em Porangatu, onde são cultivadas melancias, Wanderson Alves Rabelo é um dos que atestam os bons resultados da polinização. “É bem viável, compensa. Dá mais frutos e a gente vê que a fruta é mais oval, não fica redondinha que não cresce muito. A mais oval cresce mais, tem mais peso”, descreve. Ele explica ter conhecido a técnica na região de Uruana e notado a grande diferença entre colocar ou não abelhas na plantação.

O que o produtor constata na prática é objeto de estudo da bióloga, fundadora e gestora da Kombee, Isabela Cardoso Fontoura. A Kombee é especializada em educação ambiental utilizando como ferramenta abelhas sem ferrão nativas do Brasil, cuja contribuição é explicada em material didático apresentado em feiras, congressos, escolas e empresas. Esse trabalho está na programação da Tecnoshow Comigo 2023, de 27 a 31 de março, em Rio Verde (GO).

Os visitantes da feira, uma das maiores do setor no Brasil, poderão conhecer, por meio de visita guiada, espécies de abelhas sem ferrão que são excelentes polinizadoras. Ao final, será oferecida degustação de mel.

O que as abelhas fazem ao polinizar é estimular, de fato, a produção de um fruto melhor desenvolvido. Elas respondem por 80% de todo o processo de polinização, observa a bióloga, o que também ajuda a promover a diversificação agrícola em propriedades rurais e, por consequência, favorece o equilíbrio e a sustentabilidade do meio ambiente.

Quando a abelha vai buscar o néctar na flor, uma solução de açúcar de que se alimenta, ela se suja de pólen; e quando vai em outra flor buscar mais néctar, esses grãos de pólen que estavam grudados nela grudam na parte feminina da outra flor e fazem a fecundação. Cada grão de pólen que é transportado vai virar uma semente no fruto”, discorre Isabela. Conclusão: quanto mais grãos de pólen transportados, mais o fruto tem que crescer e de forma mais homogênea para abrigar todas as sementes. Essa é uma das vantagens: frutos maiores e mais bem formados.

A pesquisadora dá como exemplo o morango, cuja flor tem formato igual ao da fruta. Ao passear por todo o miolo flor, a abelha favorece um morango bem formado. Se falta polinização em algum cantinho da flor, o morango fica meio deformado. O mesmo acontece com o grão de café, que é a própria semente, acrescenta ela, citando ainda como importante que a parte gelatinosa que envolve a semente e é a mais doce do fruto, como no caso do tomate, tende a ser mais adocicada com uma boa polinização.

Em Goiás, o uso de abelhas para polinizar, com aluguel de colmeias por apicultores, tem sido crescente, confirma Gabriella Iskandar, presidente da Associação de Apicultores no Estado (Apigoias). Além de plantações de melancia, ela informa que há abelhas em lavouras de soja orgânica e laranjais, entre as culturas onde mais tem sido adotado esse tipo de polinização em Goiás.

Um dos motivos do maior uso de abelhas para polinizar está na forte demanda por mel, com reflexos na expansão do número de colmeias, desde o início da pandemia de Covid-19, conforme mostrou reportagem do POPULAR (27/11/2022). Segundo informou o jornal, a produção de mel bateu recorde em Goiás e no Brasil em 2021. Os apicultores goianos produziram 336,2 toneladas do produto no ano passado, 11,2% mais que em 2020, um incremento acima da média nacional, que foi de 6,4%, segundo a Pesquisa de Pecuária Municipal (PPM), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). “Além da maior procura por produtos como mel e própolis, apontados como defensores do sistema imunológico, também houve um maior interesse pelo cultivo de abelhas”, traz a reportagem.

Ferrão

Foi durante a pandemia que o produtor de soja no município de Trindade, Vagmar Batista Gonçalves da Costa, que também investe na plantação de hortaliças, como abóbora, decidiu fazer um curso on-line sobre meliponicultura e depois foi atrás de abelhas sem ferrão. “Capturei duas colmeias de abelhas sem ferrão, daquelas Jataí”, relata. Mas diz ter constatado que a abelha europeia, com ferrão, ajuda a produzir ainda mais.

Ele conta que soube da polinização com uso de abelhas pelo pessoal que foi fazer a horta e está satisfeito por ter adotado a técnica. “Antes de colocar abelha, estavam dando frutos ruins, as plantas produziam pouco. Quase não via abelhas. Comecei a implantar a técnica de polinização com abelhas, logo no primeiro ano já melhorou a produção, até de frutos do Cerrado, como ingá”, comemora.

Hoje, Vagmar, que tem 29 colmeias, é também produtor de mel e quer, em breve, produzir também própolis e pólen. Ele não pretende, porém, alugar suas colmeias para outras lavouras. “Recebi uma proposta no começo do ano passado, não quis aceitar porque eram melancia e feijão irrigados, com muito uso de agrotóxicos no feijão. Um cheiro muito forte, se prejudica a gente, imagine as abelhas”, comenta.

Safra e entressafra

No caso da produção de mel, a safra principal é no período da seca em Goiás, quando o Cerrado floresce, de julho a outubro. A entressafra vai de novembro a fevereiro, período de chuvas mais constantes. Vem então a safrinha, em março e abril, antes do manejo pré-safra, em maio e junho. Ou seja, para o apicultor, é interessante alugar ou mesmo ceder as colmeias para polinizar flores em lavouras na temporada de fome para elas, quando precisam ser alimentadas na colmeia.

Essa parceria vem sendo feita por Edson Jorge da Silva, de Vicentinópolis, dono de um apiário de 50 colmeias, com que produz mel e própolis. Ele cede as colmeias para polinizar as lavouras dos parentes situadas ao lado da sua propriedade. “Ficam num local estratégico para entressafra das abelhas, no período chuvoso, que é a época da florada da soja”, lembra. Com isso, ele conta que não tem custo de manutenção do apiário, porque as abelhas se alimentam ao polinizar as flores de soja.

Desde 2007 trabalhando com apicultura, Edson é mais um a apontar vantagens com abelhas na polinização. Mas ele também alerta. “Tem um impasse na aplicação de agrotóxico, é preciso conscientizar sobre horário de aplicação, o que pode, o que não pode”, orienta, destacando a importância de acompanhar de perto todo o processo.

Já tive perda de mais da metade das colmeias de abelhas com ferrão por uso indevido de agrotóxico com aplicação aérea. Fui ressarcido. O problema ocorreu devido a uma plantação de cana-de-açúcar de uma usina ao lado da lavoura”, depõe.

Autodidata, Edson narra que começou a se interessar por apicultura “por causa da mortandade de abelhas”. Ele diz ter presenciado um criador de gado matando colmeia com lança chamas. “Decidi resgatar, retirar a colmeia. Simpatizei. E ele teria um custo com mão de obra para matar e ainda não teria bom resultado.” O que era um hobby, ação para preservar a natureza, virou sustento também. “O mel é uma consequência, o mais importante da abelha é a vida, todos os alimentos necessitam dela.”

O produtor avalia que na sua região, no Sul goiano, ainda há reservas e as abelhas estão se salvando. A constatação vem do fato de ser mais requisitado para resgatar enxames. Só neste ano, foram quatro enxames, informa. Ele possui equipamento de segurança (EPI) e fez curso no Senar Goiás (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Goiás) para aprender o manejo. Agora, trabalha com outros apicultores e produtores para mostrar a possibilidade de aumentar os lucros. “Até 2022 só tinha eu (no município), agora já são mais três apicultores que vão começar a produzir neste ano.”

 

Assessoria de Imprensa do Crea-GO
Fonte: O Popular



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