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Tempo e caminho para o Ensino Médio

Eng. Civ., Agric. e Seg. Trab. Lamartine Moreira – Artigo publicado no O Popular - 09/05/2023

Publicado: 09/05/2023 - Fonte: O Popular




Segundo o artigo 22 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB, a educação básica tem por finalidade “desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”.

Denota-se aí uma dicotomia, representada pela possibilidade de o estudante optar por fazer um curso que o leve a galgar uma profissão, como é o caso do ensino técnico profissionalizante, ou então, se preparar para ingresso no ensino superior, mas em ambos, sem perder de vista a formação indispensável para o exercício da cidadania.

Assiste-se atualmente a uma discussão em torno da implantação do “Novo Ensino Médio”, que na verdade, propõe uma tricotomia no preparo do aluno para o ingresso no ensino superior. Como é sabido, no nível superior de ensino, os cursos se agrupam genericamente em três áreas, embora haja interface entre elas, sendo as humanas, biológicas e exatas.

Obviamente, essa proposta foi debatida exaustivamente por autoridades no assunto, que deliberaram por adotá-la visando, obter ganhos de qualidade no conhecimento dos alunos e melhor prepará-los para o aprendizado de uma profissão em nível superior. Porém, é discutível, e o sistema pode ser visto e entendido como algo inovador, mas que, como tudo, pode conter vantagens e desvantagens.

Um dos fatores que levam à evasão escolar no nível superior é a descoberta, pelo estudante, que aquela não é a que gostaria de seguir. Alega-se que na raiz desse problema está o fato de que o aluno chega ao final do ensino médio muito jovem e ainda imaturo para fazer uma escolha com esse nível de complexidade e implicações em sua vida. Na proposta apresentada pelo MEC, o aluno teria que fazer essa opção ainda mais cedo, por volta dos 14 anos. Se ele descobrir que não tem aptidão para a área que escolheu e pretender mudar, poderá fazê-lo, mas com prejuízos de conhecimentos ou tempo.

Pensando no lado das escolas de ensino médio, salvo os conteúdos em comum, teria que ser mantida uma turma para cada área de conhecimento, ou seja, teriam que colocar pelo menos três turmas concomitantes em cada série, o que irá exigir um esforço muito grande de infraestrutura e docentes.

O outro objetivo do ensino médio é conferir a formação indispensável para o exercício da cidadania, que é uma pretensão muito ampla e complexa. Ela implica em pensar que o indivíduo seja capaz de entender, pelo menos minimamente, os principais temas que afetam a vida das pessoas hoje em dia, seja na área social, econômica, de saúde, meio ambiente, dentre outros.

Portanto, é necessário que o cidadão tenha tido contato com certo nível de aprofundamento com esses assuntos; e na divisão ou na concentração do oferecimento dos conteúdos direcionados para determinadas áreas, perde-se muito dessa diversidade, com implicações até mesmo durante a vida acadêmica.

Veja por exemplo: um estudante de engenharia civil, que é da área das exatas, deverá ter conhecimentos de biologia ao estudar sistemas de tratamentos de água e esgotos, mas isso não foi abordado na sua formação básica. Da mesma forma, como um jornalista irá redigir uma matéria ou entrevistar um especialista em virologia, se ele não tem conhecimentos básicos sobre o que é um vírus?

Portanto, o assunto exige uma reflexão mais acurada, porém, sempre observando que o ensino médio, pela própria definição da LDB, não é um preparo para o aprendizado de uma profissão de nível superior, e sim, um preparo mais amplo, para entendimento da vida, da sociedade e ainda abrir os horizontes para novos aprendizados e, aí sim, o de uma profissão.