Entrevista para O Popular abordou aspectos da drenagem urbana na capital goiana
Publicado: 27/11/2023 - Fonte: Coordenadoria de Publicidade e ImprensaO coordenador do Grupo de Trabalho - Drenagem Urbana de Goiânia, eng. civ. Marcus Mendes, concedeu entrevista ao jornal O Popular sobre a situação da drenagem na capital goiana. Confira a matéria na íntegra:
Das 11 obras de drenagem urbana anunciadas pela Prefeitura de Goiânia após o último período chuvoso, apenas uma foi concluída e outras três seguem em execução. A intervenção já finalizada, na Avenida C-107, no Jardim América, onde um motociclista morreu após ser levado pela enxurrada em janeiro deste ano, foi feita pela Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra). As outras, que constam no Programa Goiânia Adiante, estão sendo realizadas por licitação.
O anúncio de dez obras de drenagem para prevenção e enchentes foi feito em dezembro do ano passado, pelo prefeito Rogério Cruz (Republicanos), após as chuvas levarem perigo à população goianiense. Destas, em diferentes regiões, apenas as previstas no Bairro Feliz, Bairro Goiá e Jardim Goiás tiveram início. As outras sete seguem em licitação. Uma delas, na região do Bosque dos Buritis, nas proximidades da antiga Assembleia Legislativa, teve o contrato cancelado em outubro.
A única intervenção finalizada até o momento, no Jardim América, teve início no final de julho. A conclusão ocorreu em 38 dias, conforme a pasta. O serviço foi de ampliação da rede de drenagem com a troca da tubulação de 800 milímetros (mm) para 1,5 mil mm, além da instalação de 22 baterias de bocas de lobo e uma grelha com caixa de passagem na Rua C-190. Esta não é uma das obras previstas no Goiânia Adiante, e foi executada pela Seinfra com recursos próprios.
Em vias do Bairro Feliz, a exemplo da Avenida Laurício Pedro Rasmussen, e as ruas L-13, L-9, X, 806 e 823, estão sendo construídos 3.919,27 metros de galerias pluviais e 15.360 metros de terraplanagem e pavimentação asfáltica. “A rede de coleta de águas pluviais era antiga e não comportava mais o volume de água da região”, explica a pasta. Foram construídos 3,9 quilômetros de tubulações com diâmetro de 400 mm a 1,5 mil mm. Está em execução a construção de 132 bocas de lobo e 48 poços de visita.
O POPULAR noticiou em agosto deste ano que esta era a única obra que havia tido início à intervenção, ainda em maio deste ano. O serviço, com investimento total de R$ 9,7 milhões, tinha prazo para ser entregue até o final de novembro. O primeiro aditivo do contrato foi publicado na última sexta-feira (24), com acréscimo do valor da licitação para R$ 10,5 milhões, além da prorrogação por 60 dias, contados a partir do dia 6 de novembro.
A Seinfra diz, em nota, que a intervenção está 74% concluída, com prazo para ser finalizada até dezembro. O POPULAR esteve na Avenida Laurício Pedro Rasmussen, no trecho do cruzamento com a Avenida Leste-Oeste, na última segunda-feira (20), e constatou que toda a rede de drenagem já foi construída e está em andamento a pavimentação asfáltica. Ao menos dois poços de visita ainda estavam abertos naquele dia. Este ponto subterrâneo é responsável por dar acesso à rede, para reparo ou outros serviços.
Em outro trecho, entre as avenidas H e Deputado Jamel Cecílio, no Jardim Goiás, as obras tiveram início no dia 13 de outubro, com previsão de conclusão para 120 dias, ou seja, até fevereiro de 2024. O valor da obra é de R$ 4,5 milhões para construção de 2.155,64 metros lineares de galerias de águas pluviais e 6.801,71 metros quadrados de asfalto. A ampliação da rede de drenagem na região já foi finalizada na altura da ponte entre as vias e, agora, se concentra na Avenida E e nas ruas adjacentes, como a Rua 12-A. No local, nesta sexta-feira (24), trabalhadores da empresa ganhadora da licitação estavam retornando a terra retirada do subsolo, para o fechamento do buraco onde passa a tubulação. Ao lado, na Avenida E, no sentido Marginal Botafogo, era realizada a pavimentação asfáltica.
Outro ponto de alagamento que recebe intervenção é a Avenida Padre Monte, no Bairro Goiá, sobre o Córrego Taquaral. A obra, no valor de R$ 2,2 milhões para ampliação da rede de drenagem, teve início em junho e prazo de entrega para 90 dias. Agora, a previsão é ainda para novembro, após prorrogação de 60 dias. A Seinfra diz, em nota, que a rede já foi concluída “e desde domingo (19/11) está sendo realizada a terraplanagem e colocação de capa asfáltica.”
O POPULAR esteve no trecho na última sexta-feira (24). À reportagem, o comerciante Juraci de Sousa, de 49 anos, lamenta que a obra, que se arrasta por meses, ainda não tenha sido concluída. Conforme ele, por causa da poeira que permanece na região desde junho, a esposa e as três filhas, de 26, 20 e 6 anos, se mudaram temporariamente. Ele, no entanto, ficou na própria casa devido ao trabalho na borracharia. “Em outubro eu tinha de pegar água para jogar na rua (para tirar a poeira). Melhorava, mas o valor da conta de água dobrou”, conta.
O dono da borracharia conta ainda que, por conta da falta de clientela, teve de pedir dinheiro emprestado e acumulou uma dívida de R$ 17 mil. “Cliente não vinha, ficou três meses fechado aqui. É uma luta mesmo, estou quase desanimando de morar aqui”, pontua ele.
As outras obras já tiveram a empresa vencedora homologada, mas ainda não foi dado início às intervenções. Sobre elas, a Seinfra diz apenas que ainda estão “em processo de licitação”. A respeito da obra na região do Bosque dos Buritis, a assessoria da pasta pontua que ainda não houve tempo hábil para publicação de novo processo licitatório.
O POPULAR mostrou em 24 de outubro que o contrato foi rescindido após atraso no início dos serviços, previsto para junho. A intervenção era até então uma das mais caras: R$ 15,6 milhões. Também considerada uma das mais complexas.
O secretário municipal de Infraestrutura, Denes Pereira, já havia mencionado ao jornal, em matéria veiculada na terça-feira (21), a respeito da queda de um carro em uma cratera no Setor Santos Dumont, sobre a preocupação com as quedas d’água neste final de 2023.
“Parece que este ano será muito duro para nós. Tudo indica que haverá um grande volume de chuvas em pouco tempo. Esse é o grande problema. As grandes cidades não estão preparadas para a mudança do comportamento das chuvas. Essas interferências que a prefeitura resolveu enfrentar, vai mudar sobretudo o modo da infraestrutura da drenagem urbana”, ressalta.
O investimento total em drenagem urbana conforme a pasta, é de R$ 200 milhões em obras. “Historicamente, nunca foram investidos tantos recursos. Com o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), há a previsão de ser destinado mais R$ 1,5 milhão para execução de obras em Goiânia, inclusive de drenagem urbana”, destaca a Seinfra,
Chuvas devem vir mais fortes
O período chuvoso, que normalmente se inicia em outubro, foi adiado neste ano por conta do fenômeno climático El Niño. As temperaturas se mantiveram em alta e a grande quantidade de chuva ainda não caiu com tanta frequência em Goiânia. No último dia 21, uma tempestade atingiu a capital goiana e já demonstrou os perigos à população goianiense.
Árvores caíram sobre fiação e vias urbanas, deixando setores sem energia, além das fortes enxurradas que arrastaram carros e outros objetos. A Companhia Municipal de Urbanização de Goiânia (Comurg) divulgou, na ocasião, que ao menos 32 árvores foram derrubadas pela força d’água em toda a cidade.
De acordo com a previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) para dezembro, as chuvas serão acima da média em várias regiões de Goiás e com volumes acima de 300 milímetros (mm). A única exceção é o Norte goiano, que será abaixo da média, com volume abaixo de 200 mm.
O Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo) prevê para esta última semana de novembro pancadas de chuvas isoladas devido à combinação de calor e umidade. Há risco de tempestades em vários municípios do estado. Mesmo com a previsão, as quedas d’água ainda devem ser irregulares, conforme o gerente do Cimehgo, André Amorim.
Plano de Drenagem tem previsão para 2025
A Prefeitura de Goiânia firmou em maio deste ano uma parceria junto à Universidade Federal de Goiás (UFG) para a elaboração do Plano Diretor de Drenagem Urbana (PDDU) do município. O planejamento vigente até então é de 2005, e abrange apenas 60% da área urbana da capital goiana. O projeto é coordenado pelo professor da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da UFG, Klebber Formiga. Ele explica que a previsão para entrega final é maio de 2025. “Mas devemos ter uma versão preliminar no final do ano que vem (2024)”, destaca.
Conforme ele, ainda está sendo feita a fase de diagnóstico, considerada a mais demorada do plano. “Iremos levantar todos os canais, pontes e bueiros de Goiânia de modo a melhor identificar a real situação da drenagem na cidade, com os pontos mais críticos. Essa etapa é essencial para o planejamento, pois as medidas a serem adotadas incluem tanto a parte que chamamos de não estrutural (leis, regras e normas a serem seguidas) quanto estruturas que seriam obras físicas para melhorar a drenagem da cidade”, explica o docente.
Sobre os problemas de drenagem urbana de Goiânia, Formiga, que é doutor em Hidráulica e Saneamento, pontua que o problema principal é o “excesso de água gerado nos lotes, onde ficam as casas, nas calçadas, ruas etc”. Ele acrescenta ainda que, sem ações, a cidade pode contar com mais alagamentos nos próximos anos. “Temos uma cidade muito impermeabilizada, com índices maiores que 80% em boa parte dos bairros. Apenas a partir de 2014, medidas que procuram efetivamente aumentar a infiltração foram adotadas para os novos empreendimentos. Assim, temos um passivo muito grande que precisamos tratar.”
Cooperação
A solução para o problema de alagamentos, entretanto, será gradual. “Deve demorar vários anos. Será um esforço grande de todos, governo e população, que tem de participar para a melhoria do sistema. A solução do problema envolve medidas que são tomadas, tanto nos lotes (à cargo da população), quanto nas ruas e canais, sob a responsabilidade da Prefeitura. As medidas tendem a começar com a resolução dos pontos mais críticos, e depois expandem para os locais menos afetados, até que toda a cidade esteja contemplada.”
Para o coordenador do Grupo de Trabalho de Drenagem Urbana de Goiânia do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), Marcus Vinicius Araújo da Silva Mendes, o problema de alagamentos tem relação, ainda, com a falta de plano para a drenagem que siga a expansão da capital. “A cidade cresceu muito e o sistema de drenagem não”, pontua. Conforme o engenheiro civil, além do poder público, a sociedade precisa contribuir com uma solução para o problema. “Ainda há muito a se fazer. É possível (resolver), mas falta o empenho de todos.”
“Há locais que têm o sistema, mas a boca de lobo está obstruído e dificulta a drenagem da água”, cita, a exemplo do papel da população. “E não impermeabilizar totalmente seu terreno. É preciso leis que incentivem a drenagem, propostas de incentivo à população que se preocupam com a drenagem dentro do seu lote. Quando se cria leis que incentivam a resolver um problema a resposta é rápida.”
Fonte: O Popular
Coordenadoria de Imprensa do Crea-GO.
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